quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Quando a cabeça descobre

os tamanhos do mundo

e a infinidade dos laços, troncos e frutos possíveis. Dá um medo de sair subindo essa floresta toda afora

Dá uma saudade louca de raiz!

Inquietação

E do auge da correria, dos esbarrões e máscaras, ele levanta os olhos do papel

Metade do corpo ainda sentado, concentrado no desenho e nas letras recém-aprendidas; a outra metade, já homem-aranha, já quase-correndo pro pega-pega. Parou inteiro e sério nos seus seis anos:

 - Tia, como desenha um minuto?
 - Como assim? Com quais letras se escreve?
 - Não, tia! Um minuto. Eu não quero escrever a palavra, eu quero desenhar o minuto. Como é?

O minuto dele, metade João, metade homem-aranha, me valeu a semana inteira. E eu repasso o desafio: como se desenha um minuto?

sábado, 26 de novembro de 2011

Padaria

Resgatando sonhos e palavras de outras mudanças...

01/02/2010

Quando pus de novo os pés na sala, alguns móveis e algumas palavras estavam fora do lugar. Você tinha olhos de nostalgia mas deu um sorriso doce em resposta à minha inquietação: "Desde que você foi embora...". Eu? Embora? Não! Fui ali do outro lado da rua, comprar aquele sonho que a gente combinou de dividir, achei que você não tinha tanta pressa e...

Olha, tudo bem. Talvez eu tenha demorado um pouco, mas eles tinham tantas opções e a moça disse até que eu podia experimentar alguns sem compromisso de levar nem nada. E depois, tem a fila, o pão, o dinheiro... Acho que não demora tanto pra pintar uma parede, certo? Quer dizer, eu não fui embora. Eu só... tive um sonho esquisito essa noite.

Conheci umas pessoas no caminho, mas o calor continuava igual. Se bem que tinha uns ventos de vez em quando, ih! Será mesmo que eu fui embora? Aí não seria coincidência esses livros mudarem de lugar, nem esquisito você parecer crescido. É chato pensar que eu fui embora.

Os sonhos eram tão coloridos, a gente pode escolher e até montar um com a nossa cara. A gente pode saborear com calma. Quem sabe se eu te levar lá a gente não pode até fazer um sonho só nosso? É logo aqui embaixo, só precisa coragem pra atravessar a rua.

Viu só? Eu acho que fui mesmo embora, mas aquela padaria era uma boa causa: eles me disseram que ao invés de ficar só mastigando os sonhos, a gente pode fazer verbo com eles! Deixa aí esses móveis embaralhados com as palavras, calça um chinelo que nós vamos logo ali do outro lado da avenida.

Mas não era rua? Não interessa o nome, são dois lados da mesma coisa até quando parece que tem muito no meio do caminho. E não, não precisa nem adianta ajeitar o cabelo porque esse caminho despenteia e às vezes é disso que a gente precisa.

Corre aqui, tem mais gente chegando do outro lado, de outros lados que eu nem tinha visto. É muito chato pensar que eu fui embora. Mas, sabe o quê? É legal ser da turma do reencontro. Te levo ali do outro lado, de visita, que é pra você saber quanta gente foi embora de algum lugar por causa desses sonhos.

Nem doeu tanto assim, né? Eu sei, eu sei... Dá vontade de ficar um pouco mais e, ao mesmo tempo, de voltar lá e contar pra todo mundo que existem opções. Surpresa: muitos deles já sabem! Tem mais gente ali voltando de algum lugar.

E quando a gente se reencontra, ainda tá calor e as gargalhadas são as mesmas. Até alguém contar um caso com "mas você já não tava mais aqui" e levantar as poeiras da nostalgia, até lá eu nem ia desonfiar que algum de nós pudesse ter ido embora.

Agora já era tempo de conferir o lugar dos móveis e dos sentimentos. Ver quantos centímetros ela tinha a mais e qual era a nova cor da parede. Juntei as palavras e os sorrisos novos, a saudade velha e as lágrimas de sempre. Um último abraço em cada um e em cada pedaço de coisa linda que eu gosto de por no sabor do meu sonho. E fui. Embora um pedacinho de coração sempre fique pra trás, que é pra gente se ver de novo.

E você, não vem? Embora eu leve a sua vontade de sonhar junto comigo! Desce de vez dessa cama, põe o pé no chão (não machuca tanto assim) que o sonho mais gostoso é o que não acaba junto com a noite.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Entre Kabanas...

Quando menos espera, a gente confirma que o sonho é mesmo combustível pra tudo nessa vida!

Entre os quilômetros dos meus diferentes lares, encontrei de novo essa Kabana que me foi abrigo.

O abraço dos mestres valeu a noite e a viagem, valeu o coração transbordando por todos os poros, na volta do espetáculo. Fui ao Conto da Ilha Desconhecida achar um cantinho bem conhecido dos meus sonhos de outrora. Fui aí encontrá-los e reencontrar meus 15 anos que, mesmo pertinho, às vezes parecem distantes!! E descobrir o quanto cada dia naquela semana marcou a minha vida pra sempre...

Lá onde eu aprendi a andar na corda bamba de dupla, a improvisar em grupo. Onde eu descobrir que se se tem dupla ou grupo, fica muito mais possível andar nas cordas bambas da vida, improvisar pontes nos caminhos falhos e desfiladeiros. Lá onde a gente podia tocar sem desespero, abraçar sem obrigação.

Ainda era tempo de inglês e colégio, e na feia galeria monhangara, o teatro me ensinava a respirar. A gente fazia malabares, ocupava o espaço, criava cenas, virava palhaço, caía de monociclo... E vocês tiravam magia das caixas, dos bolsos, dos chapéus e botavam magia boca afora. O teatro ensinava coisas amargas como queda da corda bamba, erro de texto, camarim fedido e gosto de querosene: mas isso é memória forçada, não é memória sentida. O que eu lembro da queda é que ela podia virar cena, é de mãos e falas que seguram; do texto errado, gargalhadas e improvisos; do camarim fedido, alguma peripécia pra fugir e do gosto da querosene... o sucesso de cuspir fogo era de um sabor inenarrável, muito mais forte!

E ainda hoje, quantos não acreditam que a minha Literatura e o meu caminho só foram possíveis depois do teatro. Que o teatro era o meu xururuca, um meu pezinho de laranja lima junto com as histórias ouvidas.

A flor de hoje é especialmente para a Nélida e o Mauro, para a Nazza e a Trupe Pitaco que ficaram lá na minha terra (e espalhados por aí também) com um pedaço lindo do meu coração.

Que me ensinaram uma mágica maravilhosa: coração quando divide, cresce

domingo, 10 de julho de 2011

"O poeta é um fingidor/finge tão completamente..."


 - Tiiaa, eu tô com medo! Quero parar

- Calma, ó. Faz de conta que tem um castelo bem bonito no final da ponte. Olha só pro castelo e concentra! Você não é uma princesa?

(Era, por isso continuou) Mas, cinco passos depois...

- Chega, tia, eu quero descer. O castelo tá longe!

E o outro, lá debaixo:

 - E como é esse castelo seu, menina?

Ela olhou pra frente e desistiu de descer. A ponte terminava em um escorregador, e ela voou pro portão assim que acabou de escorregar, os olhinhos brilhando mais que sol de meio-dia:

 - Tia! Vou contar pra minha mãe que venci esse medo.
(E não é que tinha mesmo um baita dum castelo no fim da ponte?)

domingo, 29 de maio de 2011

Mais mágico que Oz

Era uma despedida de oferecer gesto e palavra.

Ele tinha cabelos grisalhos e camisa arrumada de senhor.O sorriso aberto era de moleque.

Me escolheu!

"Acredito que você seja a mais jovem o grupo. Se não for, não tem problema. Vale o simbólico."

O gesto com as duas mãos era como de quem guarda um passarinho delicado, um bem precioso...

"O que eu ofereço é o meu coração porque quero que ele fique com a esperança da juventude"

 Mal sabia ele que apesar da idade de avô, seu sorriso o manteria sempre na juventude de neto.
Fiquei com a honra do presente e o medo da responsabilidade.
Agora guardo dois corações no peito: e um é quase verde, inteirinho feito de esperança!

domingo, 22 de maio de 2011

Quantas cambalhotas mede essa piscina?

Sem dom nenhum de matemática, eu guardava poucos números na memória.
Assim:

Mais de 5 cd's era uma viagem longa

Uma piscina de 3 cambalhotas era um pouco pequena

53: o recorde de passos de cabeça pra baixo!

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E eu continuo me embolando nos números,
sem certeza nem de quantos anos se passaram nessa brincadeira toda.

No tempo de agora cabe pouca bananeira:
Plantam-se aqui emails, datas, seminários e provas.

Mas o meu mundo insiste em andar às piruetas!

                                           Ou será que sou eu a tentar outro recorde de ponta cabeça?

Faz muito mais de 5 cd's que eu vim parar aqui!

E as cambalhotas de medir a piscina do mundo parecem não acabar mais (será o mar?)