sábado, 26 de novembro de 2011

Padaria

Resgatando sonhos e palavras de outras mudanças...

01/02/2010

Quando pus de novo os pés na sala, alguns móveis e algumas palavras estavam fora do lugar. Você tinha olhos de nostalgia mas deu um sorriso doce em resposta à minha inquietação: "Desde que você foi embora...". Eu? Embora? Não! Fui ali do outro lado da rua, comprar aquele sonho que a gente combinou de dividir, achei que você não tinha tanta pressa e...

Olha, tudo bem. Talvez eu tenha demorado um pouco, mas eles tinham tantas opções e a moça disse até que eu podia experimentar alguns sem compromisso de levar nem nada. E depois, tem a fila, o pão, o dinheiro... Acho que não demora tanto pra pintar uma parede, certo? Quer dizer, eu não fui embora. Eu só... tive um sonho esquisito essa noite.

Conheci umas pessoas no caminho, mas o calor continuava igual. Se bem que tinha uns ventos de vez em quando, ih! Será mesmo que eu fui embora? Aí não seria coincidência esses livros mudarem de lugar, nem esquisito você parecer crescido. É chato pensar que eu fui embora.

Os sonhos eram tão coloridos, a gente pode escolher e até montar um com a nossa cara. A gente pode saborear com calma. Quem sabe se eu te levar lá a gente não pode até fazer um sonho só nosso? É logo aqui embaixo, só precisa coragem pra atravessar a rua.

Viu só? Eu acho que fui mesmo embora, mas aquela padaria era uma boa causa: eles me disseram que ao invés de ficar só mastigando os sonhos, a gente pode fazer verbo com eles! Deixa aí esses móveis embaralhados com as palavras, calça um chinelo que nós vamos logo ali do outro lado da avenida.

Mas não era rua? Não interessa o nome, são dois lados da mesma coisa até quando parece que tem muito no meio do caminho. E não, não precisa nem adianta ajeitar o cabelo porque esse caminho despenteia e às vezes é disso que a gente precisa.

Corre aqui, tem mais gente chegando do outro lado, de outros lados que eu nem tinha visto. É muito chato pensar que eu fui embora. Mas, sabe o quê? É legal ser da turma do reencontro. Te levo ali do outro lado, de visita, que é pra você saber quanta gente foi embora de algum lugar por causa desses sonhos.

Nem doeu tanto assim, né? Eu sei, eu sei... Dá vontade de ficar um pouco mais e, ao mesmo tempo, de voltar lá e contar pra todo mundo que existem opções. Surpresa: muitos deles já sabem! Tem mais gente ali voltando de algum lugar.

E quando a gente se reencontra, ainda tá calor e as gargalhadas são as mesmas. Até alguém contar um caso com "mas você já não tava mais aqui" e levantar as poeiras da nostalgia, até lá eu nem ia desonfiar que algum de nós pudesse ter ido embora.

Agora já era tempo de conferir o lugar dos móveis e dos sentimentos. Ver quantos centímetros ela tinha a mais e qual era a nova cor da parede. Juntei as palavras e os sorrisos novos, a saudade velha e as lágrimas de sempre. Um último abraço em cada um e em cada pedaço de coisa linda que eu gosto de por no sabor do meu sonho. E fui. Embora um pedacinho de coração sempre fique pra trás, que é pra gente se ver de novo.

E você, não vem? Embora eu leve a sua vontade de sonhar junto comigo! Desce de vez dessa cama, põe o pé no chão (não machuca tanto assim) que o sonho mais gostoso é o que não acaba junto com a noite.